DESAFIO DE BRASILEIROS QUE VIVEM NO EXTERIOR..
Portugal

DESAFIO DE BRASILEIROS QUE VIVEM NO EXTERIOR..


Por: Paty Menezes

Segue abaixo matéria do blog Impressões Cotidianas da Jornalista Paty Menezes, vale a pena conferir há um depoimento meu e de Pedro, além de outros brasileiros morando fora do país, a matéria ficou de muito bom gosto e profissionalismo.

OBRIGADA PATY!!

O ser humano geralmente adora desafios, mudanças, novidades. É comum a crença de que se mudarmos de ambiente a vida pode melhorar. Essa saga não é para qualquer um. Conversei com brasileiros que vivem em lugares diferentes, três deles na Europa e um nos EUA. Conheça as aventuras, dificuldades, opiniões e principalmente os conselhos de cada um.

O casal Maria e Pedro*, de 30 anos decidiu que era hora de ousar. Os dois queriam estudar em outro país, ter um currículo diferenciado e novas experiências. Eles não tinham muita informação sobre a entrada de brasileiros no exterior, mesmo assim resolveram mudar-se de mala e cuia para Portugal, há um ano e meio. "É uma experiência de vida e tanto, cresci muito neste tempo e faria tudo novamente com exceção do fato de não termos vindo legalizados", conta Maria.

O marqueteiro Joaquim Gonçalves do Nascimento, 27 anos é natural de São Paulo e não estava satisfeito com a vida que levava. ?Já não estava feliz comigo mesmo. A Europa foi uma conseqüência. Minha mãe já estava aqui, por isso acabei vindo pra cá, mas podia ter ido pra qualquer lugar?, diz.



Nando Cordeiro, de 27 anos, nasceu em Joinville (SC) e há 10 anos mora nos EUA. ?Comecei a cantar desde cedo, com nove anos eu cantava com minha mãe, e aos 15 comecei a cantar em bares noturnos sempre acompanhado de minha mãe. O que me levou a morar fora foi o sonho de gravar meu 1º CD. Escolhi os EUA porque precisava fazer um curso de inglês e tínhamos em mente que era o melhor país para se viver naquela época?, conta o músico.

Nando diz que hoje dificilmente iria para a América. ?Se fosse pra vir hoje pra cá, não teria a mesma coragem, até por que o dólar desvalorizou muito, então não vale apena deixar o Brasil. Tudo mudou aqui, o custo de vida é muito alto. Há 10 anos os brasileiros conseguiam enviar dinheiro para a família, hoje conseguimos apenas nos manter?, diz.

Ilegalidade
Pedro e Maria se arrependeram de viver ilegalmente em Portugal, pois a situação não é nem um pouco agradável. "Se vier ilegal há todos os contras aqui a sua espera... Se vier legalizado não vejo contras senão a saudade. Prós? Segurança, saúde pública, educação e a moeda. Hoje o Euro está 2,51, mas há picos de 2,70", diz Maria.

O casal não tem a liberdade de viajar pelo território europeu. "Nesse tempo que estamos aqui não conhecemos nenhum outro país, fruto da ilegalidade, claro. Uma pessoa ilegal pode se descoberta pelo SEF(Serviço Estrangeiro de Fronteiras) e receber uma carta "convidando" a se retirar do país em um prazo de 30 dias. Se a pessoa não sair de Portugal ela não conseguirá se legalizar depois, pois imagine como veriam uma pessoa que recebeu essa carta e não saiu do país? Não deve ser nada simpático", explica.

Maria diz que grande parte das pessoas tem uma imagem distorcida da concessão de vistos. "Um indivíduo ilegal aqui sofre muito sendo que Brasil e Portugal têm acordos que facilitam a concessão de vistos, então não custa tentar, as pessoas têm uma imagem de que todos os consulados são como o consulado americano, o que não é verdade. Brasileiros que estão aqui legalmente são muito bem tratados, podem pedir pelos seus direitos, conseguem trabalho rápido e são muito mais independentes", fala.

As dificuldades que o casal enfrentou e vêm enfrentando os levou a montar o blog Morar em Portugal para esclarecer dúvidas de brasileiros com o mesmo sonho. O blog também traz muitas dicas sobre a vida em solo lusitano. (Vale a pena conferir).

Recomeçar
Maria e Pedro pretendem vir ao Brasil nas férias do mestrado de Pedro e depois voltar para Portugal com o visto de estudante. Em breve poderão desfrutar a liberdade que tanto sonham.

Emprego
Joaquim tem descendência portuguesa, o que facilitou sua mudança para a Suíça, onde vive há sete meses. ?Tenho cidadania portuguesa desde 2002, por isso ficou mais fácil. Só consegui emprego aqui por causa da cidadania, caso contrário teria que ir pra área de jardinagem, restaurante ou construção?, fala.

Maria diz que não foi difícil conseguir trabalho em Portugal. "Eu consegui logo porque para mulher sempre é mais fácil. Não pude escolher e fui trabalhar com limpeza. Eu nunca tinha feito isso no Brasil, foi duro, mas como todo trabalho é digno não me senti mal pelo trabalho, me senti mal por saber que eu posso muito mais do que aquilo e tive que ficar naquele trabalho, pois era o que tinha pra mim. Pedro ficou três meses sem trabalho porque fizemos um acordo de que ele só trabalharia na área dele e esperaríamos um tempo. Antes desse tempo ele conseguiu trabalho na área", conta.

Nando teve diversos trabalhos até conseguir realizar o sonho de gravar seu primeiro CD. ?Eu vim pra cá pra fazer o curso de inglês, cantava à noite e de dia trabalhava limpando neve, arrumando quartos, fui jardineiro, lavador de pratos e até chefe de um restaurante, mas nunca deixei a musica de lado. Meu objetivo era ser músico. Quando fui chefe de restaurante ganhei uma grana e consegui gravar o CD?, diz.

O cantor e compositor Nando Cordeiro mora há 10 anos nos EUA


O perfil profissional do brasileiro
Para Maria, a criatividade e o empenho para conquistar o cliente, características notáveis do nosso povo, podem fazer a diferença. "Seja em que área for, há muitas chances aqui pelo fato dos portugueses serem um bocado acomodados. Se você for a uma loja, por exemplo, e pedir uma berinjela rosa e não tiver o vendedor simplesmente responde que não há e pronto. Ele nem se dá ao trabalho de dizer que não tem a rosa, mas tem a roxa. No Brasil eles te empurram a roxa e ainda te fazem acreditar que a rosa que você procurava não é tão boa!", diz.

Idioma
Nando diz que os imigrantes sofrem muito quando não conhecem o idioma. ?Quando vivemos no Brasil acreditamos que aqui(nos EUA) é um mundo maravilhoso, mas na verdade é uma fantasia. Os imigrantes sofrem demais, se não souber falar o inglês fica pior?, conta.

Para Maria, que acaba de ingressar na faculdade de psicologia, Portugal foi escolhido por não saberem o inglês suficientemente. ?Meu marido queria fazer um mestrado. O mestrado dele (que é da área de geografia) é muito bom em Portugal e por não falarmos "ainda" o inglês nos sentiríamos mais confortáveis aqui, pois além do impacto cultural não teríamos o impacto do idioma. Mesmo assim é difícil entender o que eles falam. É rápido demais", diz.

Para Joaquim é muito complicado quando alguém quer pedir algo e não conhece o idioma. ?Antes de vir, fiz um mês de francês, intensivo de férias, mas mesmo assim foi difícil. Só depois de três meses que entendia algumas coisas. Agora entendo quase tudo, mas falar ainda é difícil. Para aprender depende de cada um, cada pessoa tem um tempo ideal e sofre bastante por não saber perguntar, pedir, essas coisas. Se você não sabe não arrisque, só se você quiser muito?, aconselha.

Diferenças e saudades
?Sinto saudades de tudo do Brasil, principalmente das festas... Quando cheguei aqui me assustei muito com o clima, mas eu gosto do frio, não foi difícil me adaptar! O Inverno é o clima dos enamorados... Nunca cogitei a possibilidade de voltar sem antes ter conseguido realizar meu sonho?, fala Nando.

Para Joaquim tudo é diferente. ?Aqui o pessoal é mais educado, tem organização, segurança, qualidade de vida entre outras coisas?, diz. Por outro lado ele tem que enfrentar a saudade, que é grande. ?Nada é como no Brasil. Sinto saudades do meu pai, dos meus amigos, dos costumes, comidas, cultura e da nossa língua?, diz.

Maria tem saudade do sotaque brasileiro. "Sinto saudade da voz do meu povo, aquele sotaque lindo do brasileiro, aquela voz docinha. Aqui a forma como falam parece que estão sempre brigando uns com os outros", conta rindo. Já Pedro sente falta dos amigos. "Não tenho muito com quem conversar aqui. É diferente. O MSN quebra o galho", diz.

Amizades
O casal afirma que os portugueses, em geral, são um pouco mais reservados e discretos que os brasileiros. "É possível fazer amizades, mas não pense que vai chegar aqui e sua turma vai logo marcar um churrasco pra todos se conhecerem. Esqueça isso, aqui o povo é mais reservado e não comentam de suas vidas com facilidade. É muito diferente. Pedro tem um amigão no mestrado, o rapaz é casado, mas nunca comentou nem sequer o curso que a esposa dele faz. Pedro só sabe que ela estuda muito, pois o rapaz sempre comenta. É muito estranho, mas respeitamos o jeito deles e tudo corre bem", conta Maria.

Joaquim espera conseguir fazer amizades verdadeiras como as que têm em São Paulo. ?Conheço vários portugueses e alguns brazucas de ir a casa e tudo, mas só o tempo dirá...?, diz.

A imagem do brasileiro e o preconceito
Para o casal, o homem brasileiro é visto como trabalhador. Já a mulher, infelizmente, não tem uma imagem tão positiva. "O homem brasileiro é sempre da obra. Quando eles vêem um com mais escolaridade já olham diferente, mas sabem que os brazucas vêm pra trabalhar mesmo, então valorizam isso. Já a mulher brasileira tem que se impor e muito aqui. Vou dar um exemplo, uma amiga nossa conheceu um português em uma situação comercial em que foi preciso ela passar o telefone para ele para posterior contato. Esse senhor começou a ligar convidando-a a ir tomar um café e ela sempre recusava (ela é comprometida) até que um dia ele ligou e disse assim: "Olha minha filha o negócio é o seguinte não se faça de inocente, pois nós dois já sabemos muito bem o que eu quero, somos adultos e ponto final. Nem parece que és brasileira". Sem comentários!", conta Maria.

O brasileiro que vive na Suíça é enfático. ?Pensam que somos vagabundos, mortos de fome, por isso saímos do Brasil, que todas as mulheres são prostitutas, e ainda por cima, acreditam que todos no Brasil têm por obrigação saber sambar...?, diz.

"Algumas pessoas não alugam imóveis pra mulheres brasileiras, pois segundo um amigo nosso português, essas pessoas dizem que há um sério risco do imóvel virar uma 'casa de pouca vergonha', como ele disse. E nem podemos nos queixar, aqui há muitas prostitutas brasileiras e a mulher brasileira exerce um poder sobre os homens que vocês nunca imaginarão se não puderem aqui vir e ver. Terrível isso....Já está estigmatizado", fala Maria.

?Já senti preconceito principalmente por parte dos portugueses, mas eles esquecem que aqui na Suíça são imigrantes também. Mas de outras nacionalidades ainda não?, diz Joaquim.

?Preconceito existe em todo lugar do mundo, aqui não é diferente. Somos bem vistos, os americanos gostam dos brasileiros, porque somos batalhadores, e só vem pra cá quem gosta de trabalhar?, diz Nando.

Profissões em alta na terrinha
Maria acredita que dentistas brasileiros são bem vistos em Portugal. ?Há uma rixa entre os dentistas portugueses e brasileiros. Não sei se a equivalência é fácil, pois aqui eles são médicos dentistas: estudam medicina e se especializam em odontologia. Eu trabalhei com um dentista aqui que ganhava em torno uns 30.000? por mês, ele é português. Acredito que pessoas da área de marketing aqui também tenham sucesso, mas não sei bem sobre essa área?, fala.

Pedro diz que a área de TI tem muito espaço. ?Os programadores brasileiros são muito bons e falta mão-de-obra nessa área aqui. Recomendo e muito?, diz.

Dinheiro fácil: verdade ou ilusão?
"Verdade se você tiver consciência de que pra isso deverá viver uma vida enxuta e humilde. Nós não viemos pra cá com esta idéia. Queremos enriquecer nosso currículo, então vivemos aqui como se vivêssemos no Brasil. Temos nossa casa montadinha, dois quartos, moramos só os dois, ele faz o mestrado dele eu começo em setembro, vivemos aqui sem nos privarmos de nada... Então claro, não juntamos dinheiro", explica Maria.

Para Joaquim é ilusão. ?Se você não consegue ai, não é aqui que vai conseguir, pra fazer economia faz por ai, porque só assim alguém consegue mandar grana pro Brasil. E outra, quem mora em grandes centros urbanos como São Paulo é difícil arriscar em outro país...?, diz. Para ele o que vale mesmo é a experiência cultural. ?Se você quer apenas morar fora do Brasil, não venha. Mas se quer conhecer outras culturas, independentemente se vai ganhar grana ou não, ai tudo bem?, diz.

?Sempre sonhei morar aqui, as chances de trabalho no Brasil são poucas e o salário é uma vergonha, sem contar que pagamos muitos impostos, mas pretendo voltar a morar no Brasil, porque é um país acolhedor, as pessoas são humanas, um ajuda o outro. Se vier com a cabeça voltada apenas em trabalho, você consegue ganhar dinheiro, mas tem que trabalhar muito, muito mesmo, são 12, 15 horas de trabalho diários?, orienta Nando.

Depois de tantos conselhos só falta você decidir se você topa o desafio ou não. Pesquise nos sites de consulados, embaixadas, blogs, grupos de brasileiros ou de estudantes, etc. Jamais viaje sem qualquer tipo de informação e principalmente sem o visto. Só assim você poderá aproveitar essa bela oportunidade de crescimento.

Mais sobre o assunto em:
http://www.sairdobrasil.com/
http://www.brasileirosnaeuropa.com/
http://moraremportugal.blogspot.com/
http://www.consulado-brasil.pt/
http://www.consuladoportugalsp.org.br
http://www.oilondres.com.br/
http://www.elondres.com/
http://www.consulados.com.br/consulados/usa.html
http://www.tiosam.com/brasileiros_no_exterior.asp

Blogs brasileiros pelo mundo
http://www.mundopequeno.com/


*Pedro e Maria tiveram seus nomes preservados.



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