Matemática: Ensinar a Memorizar
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Matemática: Ensinar a Memorizar


As experiências educativas irresponsáveis dos últimos 30 anos criaram um conjunto de problemas de fundo no ensino escolar português, resolúveis apenas a médio e longo prazo. Entre estes, destaca-se a absolutização do raciocínio e criatividade em detrimento da memorização, ao longo de todo o percurso do aluno na Escola, o assunto deste capítulo.

Memorizar ? para quê?

Os promotores das ditas experiências educativas dirão categoricamente que não é preciso memorizar ou decorar nada, basta perceber como as coisas funcionam, e assim consegue-se logo deduzir seja o que for, pensando logicamente. Vamos então recordar o que vimos na televisão na altura do tsunami na Indonésia ? uma menina inglesa, tendo memorizado na escola e rapidamente recordado os indícios de um tsunami, logo comunicou as suas conclusões lógicas aos pais, e como resultado não só sobreviveu ela própria e a sua família, mas também todos os outros ocupantes do seu hotel. Entretanto, havia nas praias muitas outras pessoas, as quais não tinham qualquer conhecimento memorizado em relação a isso, então as suas capacidades de raciocinar criativamente também de nada lhes valeram para salvar a própria vida. Conclui-se que precisamos de desenvolver as duas coisas em harmonia, para podermos tanto usar o conhecimento já acumulado pela humanidade ? pela memorização, como criar conhecimento novo, pelo raciocínio próprio.

Avaliação

Precisamos de um critério para avaliar a capacidade de memorizar dos nossos alunos. Ora, a Matemática é uma disciplina fundamental para todo o conhecimento exacto, que pode ser expresso por números, incluindo Ciências e Tecnologias. A Matemática lida com objectos abstractos, inexistentes na sua forma pura, definindo os mesmos, e estudando as suas propriedades, para futuros usos práticos. Os mais simples entre estes objectos são os números naturais, como 17. Para começar a usar Matemática, é preciso então saber ? ou seja, ter memorizado ? as respectivas definições dos objectos, com os quais estamos a trabalhar. Realmente, sem saber as prioridades das operações aritméticas, ensinadas na escola primária, para pouco servem os senos ? cuja definição também é preciso saber, para aplicar as fórmulas na prática. Assim, a capacidade de memorização é mesmo imprescindível para Matemática, por outro lado, o aluno com boa capacidade de memorização sistematizada não falhará em Matemática.

Vamos então usar os resultados dos Exames Nacionais de Matemática para avaliar as capacidades de memorização dos nossos alunos. As notas médias destes exames rondam uns 7 valores. Assim, um aluno médio, tendo chegado ao fim do seu percurso escolar, não aprendeu mais que um terço do que devia. Mas a falta de competências matemáticas significa falhas nas capacidades de memorização, as quais deverão ser desenvolvidas na Escola, mediante exercícios persistentes. Senão, as capacidades de memorização se atrofiam, como qualquer outra capacidade humana não utilizada: deixam de saber andar os doentes, acamados durante muito tempo. Assim, avaliamos a capacidade de memorizar sistematicamente dos nossos alunos, com a nota de ?Não Satisfaz?.

Sintomas

As falhas na capacidade de memorização sistematizada revelam-se fatais para o ensino da Matemática, e de todas as outras disciplinas que requerem uma capacidade de raciocínio abstracto, não desenvolvida na Matemática. Entre estas destacaremos Física, da qual ninguém gosta, pois esta tem muitas noções fundamentais abstractas, como ?ponto material?. Muitas outras disciplinas, como Psicologia, dependem apenas das experiências da vida quotidiana, e são muito amadas pelos alunos.

Muitos alunos ?estudam para testes?, recorrendo à memorização indiscriminada, para assim evitar o insucesso escolar. Eles decoram páginas inteiras da matéria ?que vai sair?, e depois copiam da memória para a folha do teste, esperando incluir na resposta alguma coisa relevante. Infelizmente, este tipo de memorização pouco ou nada ajuda ao aluno: este não consegue aproveitar os conhecimentos decorados em futuras ocasiões, e estuda do zero para cada teste , na falta de informações sistematicamente memorizadas. Estes alunos não conseguem estabelecer qualquer relação entre o que estão a estudar, e o que já aprenderam noutras disciplinas, ou em anos anteriores. A desculpa muito frequente do tipo ?não me lembro disso, isso foi dado já há muito tempo, ainda na primária? é um indício muito claro, que aponta às falhas gravíssimas e muito comuns nas capacidades de memorização sistematizada dos nossos alunos.

Diagnóstico

Os alunos não desenvolvem as suas capacidades de memorização, pois os exercícios para isso necessários foram excluídos de programas de todas as disciplinas escolares. Isso conduz ao insucesso escolar da maioria dos alunos, provocado pelos métodos e programas de ensino, manifestamente inadequados. Saliente-se que as insuficiências ao nível de qualificação de professores pouco contribuem para o insucesso escolar generalizado.

Metas

O ensino na Escola Primaria deverá ser baseado no desenvolvimento e aproveitamento das capacidades de memorização sistematizada. Os elementos de raciocínio crítico e criatividade deverão ser introduzidos nos programas escolares gradualmente, ao longo do percurso escolar do aluno, ocupando um espaço cada vez maior na medida do seu crescimento e desenvolvimento intelectual, atingindo uma maior expressão na Escola Secundária.

Medidas

Assim, os livros escolares e os materiais metódicos de todas as disciplinas e de todos os anos deverão ser reeditados, para incluir exercícios para o desenvolvimento das capacidades de memorização sistematizada. Isso inclui poemas nas aulas de Português, tabuada, definições e fórmulas na Matemática e Ciências, nomes dos Reis de Portugal e datas históricas, Hino Nacional, e todos os outros conteúdos programáticos que não se deduzem logicamente. Além disso, devemos deixar de perder o tempo com as tentativas de usar o "pensamento crítico e independente" dos alunos do 1º e 2º Ciclos de Ensino Básico, pois as respectivas capacidades cerebrais só se desenvolvam mais tarde.




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