Lusofonia: Uma Vantagem Competitiva
Portugal

Lusofonia: Uma Vantagem Competitiva


As expectativas e as emoções que se criaram, um pouco por toda a Europa, em torno das eleições francesas parecem-me bastante inconsequentes. O que é realmente importante é que a Europa tem vindo a perder a sua preponderância internacional e a sua capacidade de influência geoestratégica, o seu poder económico e o seu talento de inovação estão profundamente debilitados; estes são, aliás, problemas que, dentro de alguns anos, poderão vir a afectar também os Estados Unidos.


O futuro está nos países emergentes; os BRICs assumem uma importância cada vez maior e um poderio económico invejável. Neste momento, só não têm maior influência política porque ainda constituem uma aliança recente, bastante idiossincrática e com desígnios políticos distintos. Esta constitui, aliás, umas das causas principais, a meu ver, para um nível de influência colectivo ainda descoordenado e pouco eficaz; a tentativa infrutífera de um lugar no Conselho de Segurança ou a presidência do Banco Mundial constituem exemplos elucidativos. De qualquer forma, o potencial de ganho é imenso e têm-se conseguido avanços importantes: aumento das transacções comerciais entre BRICs (a China é o maior parceiro comercial do Brasil, o comércio Brasil/África quadruplicou em dez anos), alargamento dos participantes nas cimeiras G7, o aumento do peso do produto BRICs no total mundial.


Neste novo concerto de desenvolvimento, devemos potenciar o espaço da lusofonia, que não pode ser apenas a soma de territórios e populações ligados pela língua e corporizados numa instituição de relações, como tem sido a CPLP. O conjunto de afinidades que o passado nos legou e que a língua comum facilita deve ser potenciado de forma constante e ininterrupta até ao limite das nossas forças e idiossincrasias, ou apesar delas. Mas, infelizmente, e apesar de alguns esforços, a lusofonia parece fugir-nos por entre os dedos. O Brasil, grande responsável pela importância que o português tem hoje no mundo e o mais populoso país lusófono, tem optado por um certo distanciamento, concentrando os seus esforços num quadro de referência internacional onde não parece existir espaço para Portugal; Angola torna-se cada vez mais atractiva na cena internacional e, apesar da sua democracia ainda frágil, tende a seguir as pisadas do Brasil e, mais cedo ou mais tarde, a escolher outros parceiros privilegiados, como a China, por exemplo.


Portugal tem necessidade de operacionalizar rapidamente uma estratégia de aproximação que tem na língua portuguesa e no trabalho laborioso e sistemático da diplomacia, veículos fundamentais para exercer o soft power que tem vindo a alcançar, fruto de alguma reputação na cena internacional e mercê de um património de muitas décadas de relacionamento lusófono. O sucesso deste empreendimento dependerá, seguramente, da forma hábil como espero venham a funcionar os três pilares/instituições fundamentais da nossa actuação: o comércio, a cooperação e a língua, recentemente reorganizados.  

A desagregação do modelo Ocidental e a ascensão dos países emergentes representará a muito curto prazo uma mudança radical na agenda e na forma como as decisões serão tomadas no contexto internacional. Portugal tem na lusofonia uma vantagem competitiva decisiva que não pode descurar.

Artigo publicado no Semanário Sol: 1 de Junho de 2012



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