Portugal
Computadores, Calculadoras, Meios Técnicos e Insucesso Escolar
Existe na sociedade uma tendência para tentar melhorar o ensino gastando dinheiro em computadores e outros meios técnicos.
Antes de mais, o leitor deve tentar responder a uma simples pergunta: como é que se conseguia estudar há 30 anos, na ausência de computadores e calculadoras?
A resposta é simples:
trabalhando para isso.
Tese: o uso de calculadoras na aula justifica-se apenas a partir do 8º ou 9º ano.
Demonstração: os objectivos do ensino da Matemática devem incluir a capacidade de cálculo mental, pois sem isso uma pessoa não perceberá nada de Matemática, já que não terá a mínima ideia do resultado que se espera obter, nem do seu sinal (positivo ou negativo), nem da ordem de grandeza, pelo que jamais conseguirá detectar se o resultado obtido na máquina está, ou não, correcto. Ao trabalhar o cálculo mental, qualquer uso da calculadora é prejudicial, pois elimina a necessidade de fazer (e de aprender a fazer) o mesmo cálculo mental.
O ensino das ciências nas fases iniciais pode, e deve, ser feito utilizando problemas com números de poucos algarismos significativos, que admitem um cálculo mental simples. Em fases mais avançadas, ao tentar explicar fenómenos mais complexos, onde existe a necessidade de usar constantes físicas de elevada precisão, o uso da calculadora pode ser bem justificado, pois nesta fase o seu uso acelera a obtenção de resultados numéricos, sem prejudicar a sua precisão e o número de algarismos significativos. Nesta fase, devemos dar em Matemática os conceitos de cálculo numérico com uso de calculadoras e computadores, que são necessários para a compreensão dos resultados destes cálculos.
Entretanto, é a partir do 7º ou 8º ano que devem ser introduzidos em Matemática os conceitos de cálculo simbólico e de transformações equivalentes de expressões literais, os quais hoje em dia são introduzidos muito mais tarde, apenas no 11º e 12º ano, quando já é tarde demais para aprender.
Tese: a Internet, como fonte de informação, não pode ser aproveitada por um aluno médio. Demonstração: este aluno, como já vimos, não tem as suas capacidades de memorização sistematizada devidamente desenvolvidas, e na consequência disso, não possui um vocabulário activo, nem um vocabulário passivo, suficientemente abrangentes. Em poucas palavras: mesmo conseguindo ler uma palavra, faz pouca ideia do seu significado; precisando de designar alguma coisa específica, não tem palavras para isso; precisando de formular ideias próprias, tem imensas dificuldades, tanto por falta de ideias, como por falta de vocabulário. Assim, tentando encontrar as informações na Internet, pouca coisa consegue fazer, pois nem sabe formular uma pesquisa adequada.
Tese: Os "trabalhos" que os professores mandam fazer em nada conseguem melhorar os conhecimentos de um aluno médio. Demonstração: o aluno médio, como vimos no ponto anterior, encontra-se extremamente limitado em termos das suas capacidades de leitura, percepção, interpretação e enquadramento de informações, e assim não as consegue transformar em conhecimentos. Assim, o mais que consegue fazer, é copiar para o Google o tema do trabalho que o professor mandou fazer, e retirar dos trabalhos, já feitos por alunos Brasileiros, parágrafos inteiros, pois não é capaz de perceber as ideias aí expressas e reformulá-las por palavras próprias.
Tese: O abuso da televisão e dos jogos de computador prejudica a saúde e o desenvolvimento intelectual e social de crianças e jovens.Demonstração: temos aqui uma lista de estudos científicos que demonstraram uma ligação causa-efeito entre o abuso da televisão e dos jogos de computador, de um lado, e a obesidade, os atrasos no desenvolvimento intelectual e social, o insucesso escolar, a violência e a exclusão social, do outro, entre crianças e jovens.
MedidasDeve ser feito o possível ao nível dos currículos escolares e dos métodos de ensino para evitar o abuso da calculadoras e dos "trabalhos" de computador. O abuso dos trabalhos deve ser também considerado, negativamente, na avaliação dos professores. No que diz respeito aos abusos em casa, é necessário informar devidamente as famílias.
ConclusãoComo foi demonstrado, para uma aluno médio, o acesso aos computadores, às calculadoras e a outros meios técnicos, apenas fortifica as causas do seu insucesso escolar. Notemos que um aluno médio é um aluno de insucesso notável, como mostram as notas médias dos Exames Nacionais de Matemática e Português.
_
loading...
-
Diagnóstico Do Ensino Superior: 12 + 5 = 2
Recentemente fiquei a conhecer alguns resultados do projecto PMAT, com o qual a Sociedade Portuguesa de Matemática avaliou o grau de preparação em Matemática que a nossa Escola proporciona aos alunos que entram no Ensino Superior. A respectiva comunicação...
-
Métodos De Avaliação E O (in)sucesso Escolar No Ensino Supeior Nacional
Igor Khmelinskii, FCT, DQF, Universidade do Algarve A Universidade recebe alunos ignorados pela Escola O maior defeito do ensino escolar é a recusa consciente e oficial da Escola do uso da memorização como instrumento de aprendizagem, e a recusa de...
-
Melhorias No Sucesso Escolar No Ensino Secundário No Ano Lectivo 2006-2007: Fraude Educativa Generalizada
O Governo congratulou-se com uma redução drástica de 10% no insucesso escolar na escola secundária no ano lectivo transacto, atribuindo este resultado às medidas que aplicou durante os últimos dois anos. Consideremos os factores que afectam a situação:...
-
Ensino Escolar: Metas E Medidas
O estado deplorável do sistema escolar nacional é do conhecimento público, e cada um consegue apresentar diversos exemplos ilustrativos deste fenómeno. Vários remédios foram propostos, uma grande parte dos quais, incluindo as recomendações das...
-
Matemática: Ensinar A Memorizar
As experiências educativas irresponsáveis dos últimos 30 anos criaram um conjunto de problemas de fundo no ensino escolar português, resolúveis apenas a médio e longo prazo. Entre estes, destaca-se a absolutização do raciocínio e criatividade...
Portugal