Assume-se que os problemas existentes no sistema educativo português podem ser resolvidos amanhã, desde que sejam hoje tomadas as medidas ?correctas?. Mas, na realidade, são a consequência das decisões tomadas no decurso das experiências educativas irresponsáveis dos últimos 30 anos, as quais criaram problemas de fundo, resolúveis só a médio ou longo prazo. Aqui, falaremos de um dos problemas mais urgentes: como se ensina a ler na escola primária.
Avaliação do ensino Básico e Secundário
Avaliemos o ensino em termos de competências-chave adquiridas. Realcemos apenas a mais importante destas competências ? saber ler, perceber e interpretar um texto escrito. Nos Exames Nacionais de Português do 12º ano, de um total de 20 valores, são dados 8 pela interpretação de um texto escrito. Como sabemos, as notas médias rondam 7 valores. Assim, um aluno médio adquiriu esta competência-chave apenas a 30%, pois um aluno excelente nesta competência não conseguirá falhar redondamente em tudo o resto. Assim, o aluno médio não atinge, no fim do 12º ano, tão-pouco o nível exigível aos alunos da escola primária. Entre os alunos que entram no ensino superior, muitos falham também nessa mesma competência-chave, saber ler, perceber e interpretar um texto escrito, o que não surpreende, pois têm uma média escolar abaixo de 10 valores. Assim, a avaliação que poderemos atribuir ao ensino de Leitura e Português, é "Não Satisfaz".
Ensino da leitura
Acontece que vigora o método visual (método global) de ensino de leitura: os alunos são ensinados a reconhecer palavras inteiras pela sua aparência visual. Este método foi promovido por um educador americano, e é radicalmente diferente do método fonético: aprender as letras ? construir as sílabas ? palavras ? frases. Este educador conseguiu combinar bem os dois métodos, pois os seus alunos aprendiam a ler melhor. Entretanto, a aplicação das suas ideias no nosso sistema escolar leva ao absoluto a componente visual. A consequência disso é que a grande maioria dos professores ensina a ler pelo método visual com resultados desastrosos: os seus alunos não aprendem a ler em tempo útil, continuando sem saber ler mesmo no 4º ano da primária. Infelizmente, são incontáveis os exemplos.
Método visual (global)
As nações sem outro remédio para o ensino da leitura que não o método visual são as orientais, que utilizam na escrita os ideogramas. Os ideogramas são desenhos simplificados, cada um dos quais representa uma palavra, sendo todos os ideogramas diferentes uns dos outros, embora muitos conceitos são construídos por mais que um ideograma. Um japonês bem-formado sabe cerca de mil ideogramas. Isso dá cerca de cem ideogramas por ano de ensino, ou então cerca de dois por semana, o que até não parece muito. Entretanto, um aluno japonês, para atingir o sucesso escolar, estuda muitas mais horas por dia que um aluno ocidental.
Assim, o aluno português tem que reconhecer as palavras pela sua aparência visual, sem saber as letras nem as sílabas. Vendo páginas cheias de texto, rapidamente perde a confiança nas suas capacidades, pois todos os dias exigem-lhe que aprenda mais palavras, a uma velocidade que em muito excede os dois ideogramas por semana de um japonês. Entretanto, enquanto aquele sabe que deve estudar arduamente, este não tem a mínima noção, pois nunca lhe exigem trabalho sério na escola. Perdidas as esperanças, o aluno desiste e não aprende a ler em tempo útil, com consequências desastrosas ? para o seu percurso escolar, e graves ? para o resto da sua vida.
As dificuldades do método visual percebem-se melhor em termos do funcionamento do nosso cérebro, pois a maioria das pessoas consegue raciocinar apoiando-se em noções expressas por palavras, construídas por fonemas ou sons. Assim, o método fonético aplica-se ao ensino de Leitura com toda a naturalidade. Por outro lado, apenas os pintores geniais conseguem raciocinar apoiando-se em imagens. Todos conhecemos as dificuldades em aprender sinais de trânsito, embora estes sejam muito menos numerosos que os ideogramas, e foram concebidos para serem facilmente interpretáveis. As pessoas que conseguem ler muito rapidamente apoiam esta sua capacidade no método visual, mas são poucas. Portanto, não se deve complicar a vida da grande maioria dos alunos, impingindo-lhes o método visual na escola primária.
Diagnóstico
Os nossos alunos da primária não conseguem aprender a ler em tempo útil, porque são maioritariamente ensinados a ler pelo método visual, que já vimos que não funciona, sendo os resultados bem visíveis no sistema educativo nacional. Saliente-se que na escola primária não há alunos maus nem professores incompetentes, existem sim métodos de ensino inadequados.
Metas
Os alunos devem aprender a ler até ao fim do 2º ano, ou seja, aos 7-8 anos de idade, correntemente, a cerca de 100 palavras por minuto. Exigir o mesmo ao fim do 1º ano seria demais, porque o aluno ficaria sobrecarregado com todas as coisas novas com que tem de contactar e aprender. O primeiro ano deverá ser dedicado à integração na turma e à aprendizagem de comportamentos disciplinados na aula, de regras de segurança, visitas de estudo aos empregos dos pais, a locais históricos, e quanto mais cedo melhor. Pode-se ir aprendendo o alfabeto e os algarismos, construindo sílabas e aprendendo somas até 20 ? mas não se deve tentar que logo no primeiro ano aprendam tudo, pois o aluno, sobrecarregado, ficará desapontado logo no primeiro ano da escolaridade.
Medidas
O método visual deverá ser substituído pelo método fonético, os livros de leitura da Escola Primária deverão ser reeditados para serem usados com o método fonético, já para o próximo ano lectivo, pois cada ano perdido representa mais uma geração de alunos, vitimas do sistema de ensino. O início do ensino do Inglês na escola primária deverá ser adiado para o terceiro ano, para dar tempo ao aluno para aprender a ler com desenvoltura. Senão, o aluno ficará sobrecarregado no segundo ano, e não conseguirá sequer aprender a ler.
Notas em prova