No estudo, realizado anualmente desde 2004 por encomenda do Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural de Portugal, são analisadas as notícias relacionadas com a imigração publicadas ao longo do ano em seis jornais de circulação nacional e em canais de televisão. As reportagens são divididas por temas e nacionalidades.
Segundo a pesquisadora, há uma ligação entre as citações de brasileiros e as matérias sobre criminalidade, o que se reflete na imagem dos brasileiros na imprensa portuguesa.
?Infelizmente, a imagem dos brasileiros está relacionada aos crimes. Em relação ao sexo masculino, a imagem é do assaltante, enquanto a das mulheres é ligada à prostituição, algumas vezes como criminosas e outras como vítimas, mas sempre ligada à transgressão social?, diz Isabel Ferin.
Números
Segundo dados do governo português, existem cerca de 431 mil imigrantes legalizados em Portugal.
Os brasileiros formam o maior contingente, com 77 mil legalizados além de 30 mil ilegais, de acordo com estimativas do prórpio governo.
Os caboverdianos vêm em segundo lugar, com cerca de 62 mil indivíduos, deixando em terceiro os ucranianos com 46 mil.
Apesar da associação com a criminalidade feita pela imprensa, os brasileiros representam pouco mais de 2% da população carcerária de Portugal.
A maioria dos 246 cidadãos brasileiros que cumprem penas em prisões portuguesas foi condenada por tráfico de drogas, presos ao tentarem entrar no país com entorpecentes.
Motivos históricos
Para Isabel Ferin, o motivo dessa imagem associada à criminalidade está ligado à história da relação entre os dois povos.
?Atribuo essa relação entre brasileiros e transgressão social a estereótipos coloniais, sobretudo à (visão da) mulher brasileira como prostituta e do homem como malandro?.
Ela acredita que o motivo pelo qual os brasileiros são a nacionalidade com pior imagem na imprensa está relacionado ao tipo de imigração.
?Os brasileiros são os únicos imigrantes que entram em situação de concorrência com os profissionais portugueses. Isso é reflexo de alguma sensação de inferioridade visível na sociedade portuguesa?.
Para Gustavo Behr, presidente da Casa do Brasil de Lisboa ? a maior associação de imigrantes brasileiros em Portugal ? não há uma posição única da imprensa portuguesa em relação aos brasileiros.
?Acho que há diferenças entre os vários meios de comunicação social, que se comportam de forma diferenciada em relação aos brasileiros. Às vezes isso depende de quem escreve?.
Ele acredita que devem haver limites éticos para os textos. ?Não acho legítimo os meios relacionarem os imigrantes com a criminalidade. É uma questão que deve ser tratada com o devido zelo. Uma notícia sobre crime que se refira a nacionalidade pode criar resistência na sociedade em acolher os imigrantes?.
Ano atípico
No estudo relativo ao ano de 2007, foram analisadas 2.624 matérias. Do total, a nacionalidade com referências no maior número de textos foi a brasileira, com 325 ocorrências (12,5% do total), seguida pelos ciganos (com 9,4%) e ucranianos (com 3,2%).
As matérias sobre imigrantes ou imigração que não especificam nenhuma nacionalidade somam 44%. No total, foram citados imigrantes de 19 nacionalidades.
O estudo também analisou as notícias veiculadas pelos canais de televisão, em um total de 237 matérias.
A principal nacionalidade citada na TV também é a brasileira, com 11,8% das referências, seguida dos nativos do Magreb e dos cidadãos dos países da Europa Oriental, ambos com a mesma porcentagem: 7,6%.
Segundo a pesquisa, em 2007, o principal tema abordado foi a clandestinidade, com 22,6% do total, ficando em segundo lugar a criminalidade, com 22,5%, seguida pela discriminação, com 12,5%.
Isabel Ferin, no entanto, considera que este foi um ano atípico.
?Em 2007, como houve a Presidência portuguesa da União Européia e, por outro lado, como o alto-comissário para a Imigração teve um papel muito ativo junto aos meios de comunicação social, a ênfase maior dos textos publicados foi para a integração dos imigrantes. Em 2008, pelo levantamento que estamos fazendo, o quadro já é diferente, com um aumento do tema da criminalidade?, disse, referindo-se ao estudo que será publicado em 2009.
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